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Arquitetos: SAMF Arquitectos
- Área: 315 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Hugo Santos Silva
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Fabricantes: CIN, FSB Franz Schneider Brakel, MACIÇA, SAMF lighting, Terracota do Algarve
Descrição enviada pela equipe de projeto. Este projecto de remodelação e ampliação de uma casa situa-se na região do Barrocal Algarvio, no sul de Portugal. Esta é uma zona de transição entre o litoral e a Serra do Caldeirão, a norte, terras agrícolas de produção de citrinos, alfarroba, amêndoas e figos.
A casa principal, construída há um século, ladeia a estrada principal, separando uma frente relativamente estreita, do extenso terreno agrícola a tardos. A cliente, nascida nesta casa, pretendia dividir o seu tempo entre uma vida mais urbana em Lisboa, e o Algarve, onde por vezes alberga uma família numerosa.
A casa segue uma tipologia recorrente no sul de Portugal e que consiste num volume comprido e baixo, de duas águas pouco inclinadas; volume esse que se pode estender consoante a necessidade, seguindo uma modulação muito simples e repetitiva: janelas e portas espaçadas com intervalos regulares em correspondência com a compartimentação interna. Geralmente esta compartimentação não tem função definida, com a excepção da sala com a chaminé, que indica a posição da cozinha. A simetria axial da fachada acentua a porta de entrada central, reforçada internamente por um corredor que atravessa até ao lado norte, onde, à excepção da simplificação das cantarias, a fachada é repetida. Ao longo dos tempos foram adicionados ao volume principal outros pequenos volumes de funções agrícolas, mais informais, com telhados de configurações variadas. Estes volumes, que ladeiam uma pequena rua de acesso lateral, criam um pátio com a casa principal, reforçando a tradição do sul de posicionar os edifícios nos limites dos acessos públicos garantindo protecção para o exterior e a máxima liberdade para a vivência no interior do lote. O muro e porta exterior, que prolonga a fachada principal, e a une ao volume adjacente vem reforçar esta intenção.
A nossa intervenção procurou clarificar a organização interna, até à sua forma original mais básica, eliminando divisões internas e outras intervenções posteriores, e introduzindo novos elementos que sendo simples, alteraram significativamente o seu uso: O corredor principal foi mantido mas complementado por um novo acesso longitudinal às novas casas de banho e à nova escada que liga ao piso superior, cujo acesso anteriormente era exterior estando limitado o seu uso a arrumos.
O espaço principal, com lareira, foi alterado de modo a ter pé direito duplo, introduzindo-se uma pequena janela que liga visualmente os dois pisos, no final do percurso interior da circulação da casa. Foram abertas vãos no muro estrutural a meio da casa, unindo a sala com a nova cozinha, permitindo um percurso circular dentro da zona social. Foi também aberto um vão na fachada lateral da cozinha, o que, conjugado com uma nova pala de protecção deste pátio, permitiu unir e proteger o acesso ao salão do volume secundário, criando um acesso directo à cozinha desde a rua.
O piso superior foi dividido em vários quartos pequenos ao longo de um corredor que termina numa porta espelho dentro de um espaço de estar sob o novo volume de uma grande trapeira transversal à casa, sobreposta ao corredor principal inferior, reforçando a simetria existente. No exterior, foram construídas grandes áreas sombreadas sob pergolas cobertas de canas, nas zonas de estacionamento automóvel e em toda a extensão da fachada norte, zona de estar exterior por excelência em contacto com as zonas sociais interiores assim como da nova piscina.
A escolha dos materiais foi limitada à tradicional tijoleira artesanal de barro nos pavimentos da casa e zona de piscina, telhas de canudo de barro claro, paredes de estuque, tábuas de madeira de pinho nacional, sobre a construção leve do piso superior, carpintarias pintadas de azul celeste no interior e de um tom mais escuro no exterior.
Esta casa do sotavento algarvio partilha com outras regiões de influência mediterrânica uma paixão por volumes de clareza geométrica elementar caiados de branco, que se revelam nos jogos de luz e de sombra. A nossa intervenção inscreve-se nesta tradição, continuando a linguagem já existente no depósito de água cúbico e no poço cilíndrico, tanto na pureza branca da nova trapeira como no meio cilindro e esfera da escada protuberante da fachada. A escada reinterpreta também a arquitectura árabe, sobretudo pela introdução de pequenos óculos de vidro maciço inseridos na cúpula segundo um padrão geométrico, com efeitos de luz de grande variedade.